Síndrome da má absorção ou doença celíaca

Embora ainda não de forma definitiva, costuma-se incluir no conceito de enteropatia de intolerância ao glúten (ou mais simplesmente a enteropatia do glúten) tanto a doença celíaca (ou doença de Gee-Herter, ou estereatorréia idiopática crônica, ou infantilismo intestinal), quanto a sprue tropical do adulto.
Uma definição mais precisa seria o termo enteropatia de prolaminas, já que não se trata de uma intolerância genérica ao gluten, mas sim, uma intolerância a determinados constituintes essenciais do mesmo: a gliadina do trigo e centeio, a orzeina da cevada, a avenina da aveia, a azenina do milho, a sargeina do sorgo. As substâncias são proteínas simples, justamente pertencentes ao grupo das prolaminas na constituição dos quais predominam o ácido glutâmico (mais ou menos 43%) e a prolamina acima de 13%. O seu mecanismo de ação não está totalmente definido. Foi, inclusive, documentada uma pequena esterificação dos ácidos graxos a triglicerídes, reduzida captação de aminoácidos e diminutas atividades das dissacarídases intestinais (especialmente lactase) o que pode explicar a intolerância ao leite por grande parte desses pacientes.
Clinicamente se manifesta como diarréia, esteatorréia e má absorção intestinal de todas as substâncias alimentares. Inquestionável é a melhora seja clínica, seja das lesões histológicas da mucosa intestinal (atrofia vilosa, hipertrofia das criptas glandulares, infiltrações linfoplasmocitarias da própria lamina). Com a eliminação das prolaminas através da dieta, não se manifesta na primeira infância e às vezes também no adulto como doença adquirida.
Em 80% dos casos a eliminação das prolaminas resolve o caso (daí, excluir trigo, centeio, cevada, aveia e milho).
Normalmente ocorrem de poucas semanas a seis meses para obter uma resposta satisfatória à dieta. Se após esse período não se observam melhoras pode-se:
a) admitir que a diagnose não foi correta
b) desconfiar do cumprimento exato da dieta
c) suspeitar da existência de outra enfermidade, (por exemplo: insuficiência pancreática)
d) admitir uma insuficiência de lactase com intolerância pelo leite.
Nos casos menos graves pode-se usar farinha de milho que poderá ser tolerada.
Os açúcares devem ser administrados qualitativa e quantitativamente com cautela, mesmo almejando fornecer as necessidades calóricas para evitar um enfraquecimento, dado que na doença celíaca, o déficit de absorção envolve também os monossacarídeos e à má absorção verdadeira se associam as alterações digestivas secundárias, como o déficit de dissacaridases entericas. O regime aqui será conforme cada paciente, pois a tolerância varia de pessoa a pessoa, conforme o andamento do peso e ao eventual aparecimento de dispepsia intestinal fermentativa.
As gorduras deverão ser reduzidas para não aumentar a quota não absorvida que passa pelo cólon e não deverão superar a 30g/dia, sendo principalmente de triglicérides da cadeia média (óleo ou margarina que entrem diretamente na veia porta do fígado, sem acionar as necessidades intestinais de resíntese lipídíca, gravemente comprometidos).
Na doença celíaca a esteatorréia parece verificar-se em fase relativamente precoce, mas todavia, não desde o início.
As proteínas deverão cobrir as necessidades teóricas individuais e preencher seja o déficit calórico, seja eventuais perdas nos casos em que a sintomatologia, os testes laboratoriais (exame de fezes, comportamento das frações protéicas) ou até mesmo uma biopsia intestinal tenham levado a estabelecer ou suspeitar de uma condição exudativa de enteropatia e, portanto, um depauperamento protéico.
A fim de prevenir síndromes de avitaminoses (especialmente aquela de carência de vitaminas lipossolúveis) que não raramente complicam a sintomatologia da doença celíaca (as esteatorréias em geral), a dieta deverá proporcionar um fornecimento vitamínico e mineral suficiente (especialmente Fe e K fornecidos em parte por frutas frescas, em parte por produtos polivitamínicos adicionados a sais minerais).
As verduras deverão ser administradas suficientemente sob a forma de espremidos, batidos e homogeneizados mas com certa parcimônia pelo elevado conteúdo de celulose que pode reduzir o coeficiente de absorção e aumentar o já grande volume das fezes.
Nos casos em que as condições do aparelho digestivo asseguram uma boa absorção do levedo de cerveja, este parece melhorar absorção intestinal, ainda com a vantagem de fornecer material protéico de alto valor biológico e sais minerais.
Se trata, de um regime que deve ser mantido por toda a vida para evitar recidivas, por vezes apenas anatômicas, clinicamente assintomáticas, mas nas quais em 28% dos casos se desenvolve o linfoma intestinal.
Devido, ser uma dieta para toda a vida, pode afetar psicologicamente o indivíduo, daí, trabalhar para acabar com a monotonia da dieta através de artifícios condimentares.
Referências Bibliográficas no artigo “Bibliografia Completa” em agosto de 2018.

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